quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

OH CIDADE DO CARAÇAS....


A minha cidade estava hoje nostálgica por ser dia de natal.

As pessoas passeavam nela de andar vagaroso e labiríntico entre ruas de calçada gasta e irregular como é de modo medieval a preservar.

Familiares distantes que por cá permaneceram estes dias, aceitam que os leve em digressão pela estranha cidade recheada de história, grande parte dela por contar.

Puxo dos galões e disserto sobre a cerca velha, delimito os espaços romanos e os medievais, enquanto corre a brisa fresca do fim de tarde, agradável e cúmplice.

Ali descrevo o espaço onde o duque D. Fernando de Guimarães, pernoitou esperando vir a assistir ao casamento de uma das filhas do rei D. João II, que em Évora pretendia casar. Afinal o duque era surpreendido com um cadafalso erguido na praça grande ( a do Giraldo) por ter sido infiel ao rei.

Naquela praça estão os sinais dos Estaus, dos paços do concelho, da cadeia e dos lugares de mercadores judeus, bem como o caminho que leva ao convento de S. Domingos onde os restos do duque repousariam depois do espectáculo da sua morte por traição.

Ergo os braços e aponto lugares de tanta história por contar, que permanece recôndita, que procurada, facilmente falará de actos de resistência de um Manoelinho, mas que por ser tolo nunca foi levado a sério. Afinal tratou-se de resistir com êxito ao domínio Filipino, mas tão pouco os tolos falavam de política naquele tempo. Eis assim um exemplo da misteriosa história da minha cidade por contar.

Nesta cidade nasci e nela permaneço quase sempre, entre gente com aspecto sereno, que prefere esperar o dia em que todos acreditarão na justiça e no bom senso, mesmo que um dia tenham que conspirar contra qualquer rei, assumindo-se como tolos.

O Natal na minha terra é silencioso como todos os acontecimentos que sempre se impuseram entre cristãos, judeus e mouros, que por cá sempre viveram.

Entre eles há sempre um Manoelinho e ninguém sabe onde ele está, mas sabe-se que mesmo tolo ele tocará a rebate para a derradeira conspiração anónima de todos os eborenses.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A DOR QUE DEVERAS SENTE


Se deus existir, que existe

Tendo que fazer o que persiste

Sendo de querer que é gravoso

O que tem em mãos por pesaroso

Que faça uma pausa e indague

Mesmo que para isso eu lhe pague

Com oração ou indulgência

Minha tristeza, minha urgência

Pois saiba deus, que existe

Não só vós, mas o que persiste

Em mim, de tão grave e comovente

A dor minha por mim, que não contente

É ela jovem a dor e inocente

Que por ser assim ardentemente

Ficará para sempre ou será luz,

Que por volátil ou perene nada traduz?


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

OH CLEMENTE!...


Não sei se será eterno o meu sorriso,

quando me sinto objecto daquela bondade,

que me deixa sério e muito triste,

distante,

por saber que é distância,

e assim é saudade?...

Saudade de saber, porque não se sabe,

se existiu o eterno desejo de conhecer,

com esperança,

até mesmo a acreditar,

quase prostrado e até a orar,

até morrer.

Em deus?...

domingo, 7 de dezembro de 2008

O POETA DISSE


Para a mentira ser segura,
E atingir profundidade
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.

A. Aleixo

Neste espaço, procuro falar das coisas que me interessam e penso interessarem a outros, tendo por opção, talvez pelo respeito que as instituições me merecem, não entrar na análise política pura e dura.

Ou o faço em forma de desabafo poético ou mais ou menos prosaico, alargando o meu instinto pouco gregário (talvez por isso) e consequentemente libertário, quando se trata de escrever.

Desta vez o apelo da política é um pouco mais forte, mas mesmo assim, introduzo António Aleixo e em forma de poesia, (a que não chamarei popular) deixo o meu veemente protesto em relação àquilo que tem sido a discussão entre professores, corpo ministerial da educação e corpos sindicais, numa fase em que todos disputam interesses específicos, supostamente convergentes, para o interesse da educação em Portugal .

Concluo assim que, depois de ter assistido aos distintos diálogos sobre estas questões, envolvendo todos os protagonistas, resta-me este desabafo:


É absurdo que se minta em política.

É desonesto que quando se mente em política, se ignore a verdade.

É paradoxal que se use intencionalmente a mentira , para atingir a verdade.

É de enorme hipocrisia ser-se político em Portugal.

É de enorme hipocrisia ser-se sindicalista em Portugal.

É de enorme hipocrisia ser-se professor em Portugal.