terça-feira, 7 de junho de 2011

Cadernos de Hoje: DO GÉNIO (GÉNERO) MASCULINO


Redondos os dias

Estranhas as noites.

Bicudo o homem

Pensando que é dia,

Ao entrar no céu

No sono da noite.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A RENDIÇÃO...


Nesse desarranjo Senhor, de vestes tímidas de encharcar em nudez, olhamos-te na procura de ideais ou quimeras que sustentem a nossa/tua vontade.

Criaste-nos assim à tua imagem e por isso te tentamos seguir literalmente, mas apenas te conseguimos ocasionalmente, por a tanto nos teres ensinado e talvez por isso em sinal de compaixão, te redimes? Prostrado apesar de altivo e escangalhado na cruz, como rei que nu se expõe à saciedade como tal, calas-te e deixas que apregoemos a vida como se ela nos pertencesse? Mas ela não nos pertence e tu sabes bem disso, melhor que ninguém…

Não ouves o clamor dos incautos?

Não segues os ais dos pais, dos filhos e dos que não são pais nem filhos e mesmo de espíritos que podendo ser santos como tu, como outros homens têm sido, te esperam venerar por obras que cubram de vestes brancas, símbolo da pureza, a dignidade humana?

Acaso te rendes como aqui és, à impiedade dos sofistas a que chamarei políticos, que te despem impiedosamente, despindo-nos a todos nós, subvertendo a capacidade de em ti acreditarmos?

Acaso remetes a nossa existência para as futuras calendas, em que os idos dias de cada mês se transformem e narrem o restolho humano, cujos cadáveres subjazem como símbolos ou troféus daqueles que te amedrontam assim e submetem, e que a nós nem falar???...

Homem, Senhor, ou mesmo «é pá!...» vê lá onde é que nos meteste e interfere educadamente junto do Pai, como é de tradição fazer, se é que ela ( a tradição) ainda se adequa e deixa-te de merdas, porque isto está a ficar sem condições para que a fé tenha lugar na vida dos homens, conscientes de que só através dela (da fé) poderemos continuar a ser o teu rebanho.

E despacha-te porque as eleições são já a 5 de Junho do corrente…

Obrigado pelo sinal

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cadernos de Hoje: DO GÉNIO (GÉNERO) FEMININO


Ainda a manhã não era dita

Pelos homens que fazem os dias

Já de tamanho grande era a esperança

Ao acordar, da mulher que se erguia.

Tamancas nos pés de veludo

Olhar no infinito sisudo

Gestos certeiros em tudo,

Vai ao encontro do homem

que faz os dias, confuso.

Debate-se, é doce, que candura…

Até perfeita seria ela, na bruma

Que a envolve na direção do vento,

Se a lua fosse terrena e sua

Se o homem fosse casto e seu

sexta-feira, 22 de abril de 2011

INTERMITÊNCIAS



Normalmente, o professor enquanto docente no ensino público ou privado aplicado aos jovens adopta/adoptava a postura de mestre.Por força da progressiva democratização do Ensino esse papel de mestre tem-se «diluído»…
Essa diluição em grande parte é justificada por aquilo a que chamo o crescimento dos alunos, que nas suas diferentes fases de formação/crescimento, deixam de precisar da rigidez da postura do mestre. Não precisam nem é necessária, porque esse professor passa a estar perante uma pessoa em formação integral. E digo integral, na medida do seu não distanciamento a tudo que acontece fora do recinto escolar.
Direi que tenho sido sempre para os meus alunos, jovens, adultos e para aqueles que estiveram sujeitos aos condicionalismos do sistema prisional, atento à sua disponibilidade para aprender, mas sobretudo para que descubram o espaço da sala de aula, do recinto exterior à sala de aula, do ambiente social, da intervenção cívica etc.
Direi a este respeito, que é com mágoa, que verifico que professores no auge da sua maturidade, quando podem dar mais e melhor à Escola, são confrontados com a necessidade da aposentação, face à desconformidade das condições que permitam a sua continuidade na Escola em condições especiais, estatuto em que me enquadrarei brevemente, mas enfim…
Eis todavia, que há cerca de 3 anos alguém me falou da Universidade Sénior, como espaço de partilha de saberes, promovida pela Fundação Eugénio de Almeida. Fui até lá e inscrevi-me.
Fiz o meu acesso como docente, não sem que o fizesse com algum receio, na medida da expectativa que criei acerca da expectativa que os alunos daquela Universidade teriam sobre o meu tipo de «ensino». A minha proposta foi intencionalmente desajustada dos preceitos da Academia, muitas vezes redutora na sua prática universitária, consequentemente pouco universal. Por outro lado, procuro que seja necessariamente abrangente como um mar de emoções entre pessoas que se diluíssem naquela prática partilhada.
Entrei prosseguindo a minha área de formação, a partir das Ciências Sociais e Humanas, sem que a História, a Geografia, a Filosofia, a Psicologia, a Economia etc, deixassem de ser a alma desse espaço de reflexão, contrariando assim o que erradamente se entende ser a ciência pura aplicada às Ciências Sociais e Humanas, limitada que é muitas vezes, à utilização dos métodos quantitativos.
A prática do Sujeito, naquelas reuniões a que se chamam aulas, em que cada um de nós intervém com a sua experiência, sabedoria empírica ou científica, na descoberta ou confirmação de Verdades que nunca se querem absolutas, tem sido para mim de uma riqueza que não dispensa um aplauso a todos quantos participam nesta actividade .
A sensação com que ficamos, no fim de cada reunião semanal, é a de que tínhamos na ponta da língua tudo aquilo de que falamos durante aquela hora, e que não conseguimos dizer a ninguém, só porque ninguém estava perto de nós, quando quisemos partilhar aquele pensamento.
Afinal, tem sido assim na minha actividade docente fora da Universidade Sénior, com os meus alunos e passou a ser agora com os meus amigos seniores.
A descoberta da Verdade, através de um pequeno empurrão que damos uns aos outros, num acto de enorme solidariedade, que tanta falta faz nos tempos que correm.
Na descoberta dessa Verdade todos somos simultaneamente Sujeito e Objecto sem nunca esquecermos que a generosidade e a gratidão constituem a síntese muitas vezes feita de confronto entre os interesses aparentemente antagónicos.E eis as mentalidades.
Participar com a Universidade Sénior e sua coordenação, com os meus companheiros de «conspiração académica» tem sido para mim um prazer que pretendo continuar e divulgar.
Parabéns a todos

domingo, 27 de março de 2011

Quando o sol se põe...





Tão perto da eternidade lá junto ao sol
Que imagino ser da cor da felicidade
Deboto as emoções na claridade
Colhendo a luz da saudade
De tempos que lá não vivi
E que imagino claros
Como os olhos
Que nunca vi

sábado, 19 de março de 2011

VAMOS A ISTO...







Ligo a televisão depois de jantar porque é meu hábito ouvir notícias do meu país.O país onde nasci.
Depois penso:
Porque a vida que vivemos é preenchida por acontecimentos em que, umas vezes somos Sujeito, outras Objecto, e fazendo até um esforço de modo a relativizar o determinismo politico, que há quem diga, subverte a liberdade dos governados,dou comigo a estranhar algumas das tais notícias que é habitual serem divulgadas nas horas de maior audiência.
Uma delas trouxe-me para o computador a escrever isto e dizia o seguinte:
«O povo português vai ser chamado a votar em Maio ou Junho…»
Independentemente da razão (causa) que justifica a afirmação da jornalista, que me levaria a corromper este meu espaço de reflexão apolítica, se a ela me referisse, prefiro indignar-me apenas, com a frase que coloquei entre parênteses.
Então não é que tenho andado a massacrar a cabeça dos meus alunos com a história dos gregos, do glorioso principio da nossa civilização, da democracia, da filosofia, da história, abordadas no ponto de vista científico, porque de outra forma não faria sentido e de repente, entro na sala, qual Ágora de todos os ensinamentos, onde a televisão assume um papel fulcral e oiço uma coisa daquelas?
«O povo português vai ser chamado a votar em Maio ou Junho…»?????
Então mas afinal não cabe ao povo tal como foi concebido, ainda em tempo de factores condicionantes da democracia, decidir dos destinos da cidade?
Porque surgem estes sofistas/pedagogos/escravos da nomenclatura política, a anunciar que o povo vai ser chamado a votar em Maio ou Junho ??Porque assume a comunicação social esse papel de 2º poder, influenciando tão duramente a opinião pública de maneira a criar nela uma ideia que a vincule a um comportamento?
Se os meios justificam os fins, neste jogo de difícil equilíbrio cívico em que a cidadania é constantemente atraiçoada pela discrepância de métodos, por parte desses parceiros, neste tabuleiro, que se destruam as regras do jogo e partamos todos para a desobediência.
A Objecto nobre da democracia está ameaçado. A clientela do poder perfila-se. O povo chora e sofre. Por mim, não voto, para já…

domingo, 6 de fevereiro de 2011

SEM PALAVRAS


Nem sequer é pela vitamina D que me exponho ao sol nos primeiros dias deste meio inverno.
É apenas porque tenho umas amigas, que, mal saio de casa se me insinuam coloridas e sedentas de mimos, como adivinhando o meu lado vespertino, que é melancólico e ao mesmo tempo empreendedor.
É a hora de todas as decisões: Ao fim de semana, depois de almoço, ou contemplo a natureza ou me integro nela e hoje resolvi antecipar uma jornada que tinha planeada para amanhã e resolvo iniciá-la já hoje.
Pequenas liberdades, que me dou ao luxo de exercer, só para estar com elas, tocar-lhes, ouvi-las nos seus queixumes, que não são falsos, pelo que percebo de resistência aos rigores da minha ausência, quando me sacodem à mínima distracção.
Uma delas, que deixa clara a sua intenção de parir figos mel, lá para Agosto, começa por me dar uma chicotada nas costas com uma das suas hastes que eu pensava ter transposto. São perigosas no verão, dizem, pelo fresco que emanam da abrigada das suas largas e suculentas folhas. Sorrio-lhe e prometo-lhe um desbaste fora de época, como é típico de árvores selvagens aceitar.
Caminho da direcção das laranjeiras, que por entre a ramagem deixam que o sol me encandeie, e aí reconheço um sorriso, que desde a última rega à caldeira me era devido. Algumas laranjas no chão culpam-me de carícias perdidas no tempo e de imediato as recolho aproveitando-as para o sumo da manhã, que elas anunciarão pujantes. embora carregadas de moira geada.
Cedros , pinheiros e eucalipto em terrenos baldios sobrevivem e perfumam arrogantes e altaneiros, na margem do ribeiro de som cristalino, mas nem esses pela persistência da sua ramagem, deixam de avisar sobre as daninhas que ameaçam o seu solo, que preferem castanho e árido por tanta sombra.-Cá virei , digo-lhes, pensando no artefacto mecânico que será meu cúmplice no adorno do seu espaço, por, por elas, ser protegido do fenómeno fotossintético.
A poda das cepas já lá vai, e os primeiros grelos de verdura anunciam que foram agradecidos pelo corte temporão que ainda em Dezembro fiz nos caules ainda tenros. Pedem-me os pequenos troncos rasteiros, que elimine a grama para melhor aproveitamento da terra.Assim farei sem recorrer a químicas e sei que elas agradecem com a uva dona Maria de um lado e a piriquita de outro, como agradeceriam a ausência de micções territoriais do Suão, e do Mouro, cães exibicionistas, ou não fosse a Seara, cadela que da Serra da Estrela veio impor a regra do charme e da teimosia para terras do Alentejo.
A horta, sustenta-se de vedação a precisar de reforço e carece de adubo ou esterco que animal produzisse, se o houvesse. Não sendo essa a vocação da quinta, o adubo em que o azoto e outros ingredientes proliferam, fará a cobertura da terra, passada depois com a fresa longitudinalmente e depois ao contrário, como é de bom saber empírico praticado,resultando.
O sol esconde-se já para lá da Sé.Esta, maior que o único eucalipto da Austrália, de sabor a limão, que por cá dá as boas vindas a quem entra.
A cidade a 2 km, adormece, enquanto o cheiro da sedução das minhas amigas embriaga . Logo mais, a neblina será a recompensa da natureza, pela vida mantida em cumplicidade com o sol, e logo mais com a lua que visitará vigilante umas vezes e provocadora outras, o espaço de tanta vida por nascer.

domingo, 30 de janeiro de 2011

AS PALAVRAS QUE SEMPRE DIREI


As palavras ditas que são as sabidas por aprendidas, são as palavras que dão a conhecer uma forma de mundo através delas.
Enviusado ou não, esse mundo transporta-se com quem assim o interpreta, para o quotidiano de quem aprendeu as palavras assim e para o universo cosmopolita que passa a constituir o espaço de aceitação e negação dessa pessoa.
A partir daí, o radicalismo assume-se muitas vezes como a afirmação ou escolha dessa pessoa, junto das comunidades estruturadas a partir de valores sociais estabelecidos ao longo de séculos.Quem assim age, considera muitas vezes inconscientemente, que essa forma extremada de conduzir a relação de si com os outros é a mais valorada sem ser a mais valorizada. As premissas com que parte, para enviusar o percurso nesse mundo globalmente educado, são minoritariamente perceptíveis, por serem estranhas ao comum dos homens e das mulheres.
É frequente considerarem-se esses radicais, como os detentores de palavras sem significado, talvez loucos, quando afinal e muito frequentemente, estão apenas a tentar integrar-se no espaço da normalidade, utilizando os meios que possuem, ou seja, as palavras que lhes foi possível conhecer.
Desde os tempos imemoriais, que a comunicação foi um meio de valorização, partilha, conflito, aceitação e negação das condições que permitiram e permitem a vida em comunidade. Não se conhece que de alguma forma essa comunicação tenha sido possível através da acção marginal sobre a (apesar de tudo complexa) teia de equilíbrios que sustentam a nossa histórica cumplicidade enquanto espécie.
Não direi, para que não resulte como antiquado tal raciocínio, que cabe às instituições de Ensino, valorizar ou instrumentalizar os meios de aprendizagem das palavras, divulgando-as ou repetindo-as até à exaustão, para que o fim a que se destinam seja atingido.
A prática da utilização das palavras deveria ser permanente, útil, divertida, enviusada até, desde que a sustentabilidade de qualquer comportamento fosse atingida e entendida.
Sem que a homens e mulheres seja negado o direito ao contraditório, que os deuses se assumam como dirigentes da humanidade.