quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

CARMINA BURANA e a minha cidade...







Como a Idade Média também foi resistência, prazeres carnais, encenações de monges coléricos de desejo e sensibilidade, que nós herdámos…

Assim nos deliciamos até à obscenidade, pela nossa eterna obsessão pelo que inventamos tão frustradamente e até deliciosamente…

domingo, 31 de outubro de 2010

Un jour, un jour

Um dia virá, simples e mansamente





Un jour pourtant, un jour viendra couleur d'orange
Un jour de palme, un jour de feuillages au front
Un jour d'épaule nue où les gens s'aimeront
Un jour comme un oiseau sur la plus haute branche

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

LAMENTO CIGANO







Não sei cultivar esta ânsia de viver,
num universo de emoções escondidas ou por nascer,
quando sei agora que por tanto poder querer,
não sei decifrar quem é quem, nem para quem ser

Refugio-me, sem anseios, ou a aguardar eternamente
Há tanto, tanto tempo quase imortalmente
Obscuro, temporal, quase sentimentalmente
Sem recordar, tão pouco, mesmo fugazmente

Que mal é este, se o é,
e de quem vem?
Tal o meu desencanto
por não ver quem pense
ou ouse assim,
ouvir forte quem tem gestos,
sorrisos escondidos,
que existem e são de bem

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SUIÇA ASSIM É....

O que me chateou neste Verão, nesta voltinha pela Suiça, nem foram os esplêndidos 22 graus de média, ao sol, recebendo a brisa do lago dos Quatro Cantões em Lugano.




Nem sequer me importei por ver restaurada e florida a ponte da capela e torre da agua em Lucerna





A história dos ursos, como simbolo da capital Berna, e o facto de ter o seu centro histórico classificado pela Unesco, bem como toda a beleza da sua paisagem envolvente também não me chateou nada.




...Até lá fiz umas compras interessantes ao som duma belíssima instrumentista de violoncelo, em espaços comerciais arejados e limpos.



Em Zurique ( o tal sítio) também não me aborreceu minimamente não me ter cruzado com nenhum magnata, porque até me fixei mais no rio Limmat, na belíssima igreja de Santa Maria . etc...mas que existem pessoas de muitas nacionalidades em automóveis de vidros fumados,lá isso existem.Mas, isso não me entristeceu absolutamente nada.


De tal modo estava tranquilo, que resolvemos apanhar o barco que atravessa o lago Thun em Spiez, indo até Interlaken, numa viagem de 1 hora e meia, pelo que aguardámos pelo embarque nesta esplanada, com os Alpes , sempre mas sempre num fraterno abraço.( o senhor da foto não se importou)



Entretanto alguem me tinha falado num comboio panorâmico (Golden Pass) pelo interior da montanha e lá fomos.O percurso foi entre Montreux e a estação de inverno dos Alpes de Gstaad.Aquilo subiu,subiu até deixarmos de ver os cofres fortes cá para baixo,mas viu-se gente que vive em perfeita harmonia com a natureza e isso não me deixou minimamente incomodado.




Nem fiquei surpreendido com a forma organizada da floresta Alpina, com as tabuinhas arrumadinhas, ao lado dos tronquinhos limpinhos extraídos das arvorezinhas em devido tempo...
Nem estranhei nada, não existir por ali resíduos de floresta, nem fogos...achei aquilo tudo muito normal, sinceramente.


Tinha sido um dia intenso aquele,de emoções fortes, para quem vive na planície,pelo que resolvemos descansar numa esplanada, ao fresquinho...até porque o dia tinha sido relativamente quente/húmido.Atirei-me a uma cerveja fresquinha e não querem lá ver, que até nem importei com os 3,50 francos que me pediram pela dita?? A sério...



Annecy.Bom...já França, bem sei, mas...ainda pertence ao território alpino como se pode ver. E teria eu razões para andar chateado?Dirão todos em uníssono: Nãaaaaaaaaaooooooooooo....É claro que não.






Começava a ficar intrigado pelo facto de não me ter chateado um dia só, destes 8 que por terra de um país só, de gente que fala várias linguas, tinha andado...Resolvi entrar numa catedral em Geneve e tentar descobrir o que se passava ali de tão aglutinador, organizado e simples.E encontrei a resposta.Ei-la:
Uma catedral, um altar sem deuses inquisidores e uma cadeira.
O altar vazio de artefactos religiosos, local de encontro de homens e de palavras proferidas por homens , com o testemunho de Deus, sempre presente, mas equidistante
Uma das cadeiras de Calvino, possivelmente magro, para tão curto espaço de meditação, terá também contribuido para tanta grandeza.


Enfim...
O nosso regresso foi na direcção do nosso país.
Um ultimo olhar para a obra de um deus qualquer, que fez um pacto com os homens numa terra de Paz.Beleza.Harmonia.
Esperava-nos no nosso país, notícias de fogos, futebol, políticos não confederados, paisagem moribunda.
Um dia, irei de novo recolher flores à Suiça, junto das pessoas que vivem perto do céu.


sábado, 14 de agosto de 2010

TEXTO LONGO...


As novenas de Maria em Maio decorriam na igreja de S.Sebastião todos os finais de tarde. Acorriam a elas as meninas do bairro, de trança, de franjinha, ou muito bem penteadas. Vestidas de chita ou de algo parecido com seda, levavam nos olhos a dúvida da oração reforçada pelos olhares cúmplices dos seus pacíficos perseguidores.

Os rapazes acotovelavam-se atrás delas, a caminho da igreja, envergonhados das cicatrizes nos joelhos, ajeitando as alças que seguravam os calções, que mesmo assim deixavam sair para fora as franjas das camisolas desalinhadas .

Também eles ingenuamente matreiros, tentavam adivinhar de que lado se iriam posicionar dentro da igreja, de modo a melhor desprenderem um sorriso para a Isabelinha, a Josefa, a Manelinha ou a Inácia. Era uma repartição de afectos feita antecipadamente, por mor das opções ou paixões que cada um dizia alimentar.

O inevitável terço iria começar e a novena seria preenchida pela ladainha das mães, tias, avós, aparentemente desatentos às respeitosas mas insinuadoras aspirações a namoro por parte da miudagem. O cheiro a incenso e um resto de primavera deixada lá fora, misturavam-se no interior da igreja e acompanhava as risadas do pessoal de soquetes, repreendido de imediato após a entrada do padre para ao início das orações.

-A Isabelinha olhou para trás!?...Estava a olhar para ti…-exclamou o gordo Eduardo de olhos muito abertos, armado em alcoviteiro, empurrando e avisando histericamente o Adelino.

Os quatro rapazes entreolharam-se agora mais sérios e apreensivos, procurando entre si e em silêncio, atributos seus que justificassem tal acto e atenção da rapariga da trança. Baralhavam-se as atenções e os afectos e a pressa de atribuir a mais bela ao mais comedido, mas reconhecidamente adaptado a tal beleza, era evidente.Tal era o sofrimento perante tanta beleza…

Em lugar dos sorrisos matreiros, algo desinquietos e atrevidos,os rapazes fixaram-se quedos e mudos, como que apreensivos com a atitude da menina da rua das Rosas nº 4, desconhecendo, embora desconfiando, a quem o sorriso aberto, loiro, assustadoramente angelical seria dirigido.

O gordo entendendo não fazer parte daquela decisão, saiu da Igreja, pé ante pé, ía a ladainha ainda a meio. Cá fora o cheiro das buganvílias embriagava com o seu perfume, que se suponha vir do céu naquela altura do ano e sobretudo quando a cor de fogo surgia para o lado do poente.

Os outros rapazes ainda perceberam o ar trocista e preocupado das raparigas, que mesmo de costas se aperceberam da primeira baixa entre os seus perseguidores, admiradores, proponentes a namorados.

Adivinhava-se nos olhos dos persistentes mas silenciosos conquistadores o falhanço da estratégia naquele fim de tarde: –Porque se rira assim a Isabelinha e para qual deles? Porque se retirou o Eduardo? Embora todos os outros o vissem como o menos provável candidato a qualquer das meninas, que de terço entre as mãos, continuavam nervosamente contando as bolinhas de cada Ave-Maria.

-Malta…-sussurrou o João pelo respeito que tinha ao padre Cristiano-sai um de cada vez e lá fora falamos!...
-Está bem!..-responderam quase em uníssono os restantes-

Primeiro o Adelino, depois o José Luis e finalmente o João, depois de terem ajoelhado em linha recta na direcção do altar ( e do padre Cristiano) e procedendo ao desenho da cruz de Cristo no peito,saíram.

Cá fora nem notaram que o sol se tinha posto e foi com dificuldade que perceberam onde se encontrava o Eduardo. Só o seu choro compulsivo o identificou, sentado com a cabeça entre os joelhos, no meio de ramagens de alfazema e alecrim, que decoravam um pequeno jardim, vocacionado para o perdão, integrado na Igreja de S. Sebastião.

O João rodeado pelos companheiros foi o primeiro a chegar junto do Eduardo e com um joelho no chão colocou-se ao nível do meio abraço com que confortou o amigo, ao mesmo tempo que em conjunto lhes saltou a pergunta:

-Gordo…porque é que estás a chorar?
-Eu disse que a Isabelinha estava a olhar para o Adelino e ele nem me disse nada….-o rapaz, quase parecia entrar em convulsões tal era a emoção que colocava no choro-

Rápidamente, cada um dos amigos do Eduardo encontrou uma justificação que servisse de atenuação da sua dor, enigmática, estranha e incompreensível para todos, que com semblante carregado procuraram a escadaria que na penumbra os encaminharia até à azinhaga que os conduziria ao rossio e depois a suas casas.

Ía a descida a meio, quando no cimo quase fronteiriço às escadarias se abriu vagarosamente a enorme porta da igreja de S. Sebastião, interrompendo-se assim a caminhada dos rapazes que iam abraçados ao Eduardo.

Pararam e de olhos muito abertos, em silêncio, sentiram os seus corações a bater mais depressa, ao ritmo da intensidade produzida pelo efeito da luz forte ,amarela,vinda do interior da igreja, misturada com sombras de figuras humanas mais jovens, que progressivamente espalhavam uma atmosfera de apreensão, mas serenidade e paz ao mesmo tempo, ao espaço exterior envolvente, onde o Eduardo, o Adelino , o Joaõ e o José Luis se prostravam espantados, já com as suas faces visíveis iluminadas pela luz do interior da igreja.

Surge então o que todos eles temiam: a imagem assustadoramente bela da Isabelinha, que na dianteira daquela luz, trazia um sorriso na sua direcção, como que, se de um sonho se tratasse.

A Isabelinha descendo devagar os primeiros degraus daquela escadaria, ladeada pelas amigas, dirigiu-se com a suavidade dos anjos, ao grupo de rapazes com o Eduardo no meio deles e com um sorriso que eles nunca conseguiram definir dirigiu-se ao gordo.
E com a ternura que só um anjo consegue demonstrar, acariciou-lhe a face dizendo-lhe:-Eduardo, nunca mais chores, senão nunca mais me riu para ti na Igreja…

Retira-se de seguida, deixando o rasto daquele contagiante sorriso, que por angélico, mantinha os quatro amigos sérios e quase amedrontados .Ficou ainda o seu eterno olhar, difícil de entender, ao separar-se dos rapazes que entonteceu com um agradecimento, que mais não quis dizer que:-Adeus…

Manteve-se em silêncio seguida das suas amigas.

As faces do rapazes, passados uns segundos, iluminaram-se com um franco sorriso, de novo matreiro, de novo ladino e ingenuamente audaz, ao mesmo tempo que as raparigas desciam finalmente as escadarias, cúmplices, juntas, adiando a risota que só mais ao largo do rossio deixariam ouvir.

Os mais velhos, sobretudo as mulheres, aconchegando os xailes para as noites frias de Maio, caminhavam seguindo a garotada, Tinham ficado para trás a contemplar o gesto de ternura , inédito e inesperado da pequena Isabel, e abanando as cabeças com sorrisos de censura fingida, lá levavam mais um caso para casa, dos muitos casos que em silêncio aquela comunidade experienciava, crentes quando a dor a tanto obrigava, genuínos na esperança de poder amar eternamente.

domingo, 25 de julho de 2010

BULLING??...


...E quando chegados da escola os rapazes descalçavam as botas cardadas, para no rossio se travarem de energias e chutos na trapeira enquanto ao longe a mãe chamava a criação com o peculiar: 'pita...pita...pita....», com a malga de farelos, urtigas e casca de melancia triturada na mão...
Ultrapassada a hora do banho do pai chegado da oficina, os rapazes ainda ofegantes dirigiam-se para o quintal onde uma bacia de água os refrescava da jogatina,terminada entre bostas de vacas do Jimbrinhas,torinas de raça, vindas do chafariz.
Solene o posicionamento do chefe de família à mesa, e expectantes em silêncio todos os filhos,aguardando a qual deles caberia nessa noite, a sorte de ir beber um garoto «lá acima» ao café, de mão dada com o pai, só até que falasse na televisão o João Villaret...
A mãe aguardava «à fresca»,já recolhido o resto da prole, a chegada dos passeantes vindos da cidade,com sorrisos,roupa da cama a cheirar a lavado,pobres, nobres, orgulhosos da sua resistência em prol da honra de se ser devedor à terra, de tudo o que a terra lhes ía devendo...

domingo, 18 de julho de 2010

TEMOS MESTRES




Um destes dias, dei comigo a dizer que sou por natureza…mas rectifiquei : preferi pensar que me tornei uma pessoa mais ou menos sorumbática, que sorri pouco mas que gosta de o fazer quando encontra razões para isso.
Poderia atribuir as culpas a algum deficit de realização pessoal, ou mesmo sentimental mas não. Sei que ninguém é inteiramente feliz .
Ingiro as vitaminas e proteínas necessárias e nem sequer me queixo de fraqueza nas pernas, o que, se por um lado é vantajoso, por outro seria preocupante relativamente ao meu estado de espírito ambulante.
Eis senão quando, fazendo apelo à minha fragilizada capacidade de análise relativa a alguns comportamentos que preferi denominar : «sociais, políticos, económicos, etc,» (qual Kafka) e porque me estava a sentir mal com algumas coisas que ia ouvindo e vendo por aí, resolvi recorrer a Fernando Pessoa e através do Livro do Desassossego, encontrar algum conforto neste meu incómodo.
Fiquei compensado relativamente àquilo que considerava ser a minha endiabrada deformação psico/formativa, quando às tantas leio que: «Viver é ser outro» ou «sentir hoje o que se sentiu ontem não é sentir…» e que «…isto e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.»
Confesso que se havia algum contencioso entre mim e mim, a coisa ficou parcialmente resolvida, tanto mais que, aceitando eu que o Livro do Desassossego , sendo a obra completa mais incompleta do universo, afirmando a dúvida e a hesitação como dois absurdos pilares-mestres do mundo, só me caberia serenar o espírito e tentar compreender aquilo que eu considerava ser uma enorme confusão, por parte de governantes, religiosos, empresários, trabalhadores, chefes de família, mulheres e homens deste país em particular, excluindo os marginais claro está.
Afinal estamos todos em Portugal, a usufruir da parte minimalista da obra que intencionalmente criamos como absurda, sem consequências de qualquer natureza, para ninguém.
Confesso que ainda não me tinha apercebido de que era possível continuar a viver sendo outro. E felicito-me por me ter apercebido de tal, apesar da inspiração retardada e apoiada em testemunhos pré-vivenciais de alguém que ainda permanece vivo na nossa cultura e nas nossas vidas. Refiro-me a Fernando Pessoa obviamente.
Ele está vivo. Como vivas são as medidas tomadas pelos nossos governantes e aceites pelos nossos governados. Porque é esta a verdadeira natureza humana, que complexifica para preceder à des-complexificação, pensa para des-pensar, age para des-agir, ama para des-amar,e é aí que encontra o Nirvana , enquanto estado de libertação do sofrimento, sofrendo.
Abençoado Pessoa, sem bênção que lhe chegue, por ser infindável a obra, contida num livro completo por in-completar.

sábado, 29 de maio de 2010

A PALAVRA DADA....


Pessoais e intransmissíveis são as palavras que se proferem com o objectivo de não serem ouvidas. Isto faz todo o sentido na medida em que se dá à palavra, uma importância quase profética, (na qualidade de coisa desconhecida para o comum dos mortais)ou então porque se pretende que essa palavra, seja portadora de uma missão clandestina, visando servir interesses corporativos e como tal restritos.
Enquanto os profetas (antigos e actuais) foram ou vão utilizando a palavra, evocando apocalipses e como tal, a destruição da espécie humana pela sua não obediência a dogmas pré-estabelecidos, alguns homens e mulheres foram descobrindo o efeito da utilização espontânea e livre da palavra, que inicialmente como um queixume, depois como intervenção no seu quotidiano, lhes foram conferindo um sentimento de liberdade de que jamais quiseram abdicar.
Estamos assim, perante a palavra dita, ouvida e sentida, sendo que esta última, independentemente de quem a profere é a que maior efeito produz: porque liberta quem a diz; evoca e convoca sentimentos; alegra ou entristece quem a ouve; comove ou revolta quem a partilha.
Finalmente, a palavra sentida, transforma-se em canto, em oração, em clamor, amor ou rejeição, num acto quase solene em que se apadrinha a paixão.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

SEGUE A ESPIRAL


Ferido, evoco a história em espiral, repetindo como os cientistas repetem, que a mesma não se repete, convencendo-me de que virão novas palavras, novos gestos e que o resultado obtido ontem não será igual ao de hoje, será diferente, melhor, ou radicalmente melhor.
Com optimismo, como os cientistas que são optimistas, navego à bolina, contra o vento, contra o tempo, em silêncio, porque alguém entenderá um dia, pelos meus actos, que não precisarei de falar, nesta labuta de construir a felicidade dos outros e a minha se possível . Como os cientistas que pensam primeiro nos outros, antes de pensar em si, quase sempre em silêncio, à bolina, porque a história não se repete e amanhã será melhor, muito melhor.
Como posso assim revelar-me?Só pelos meus gestos o poderei fazer, se alguém os entender.
Que a felicidade circunde sempre a tua vontade e a acompanhe.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

MÊS DE MARIA ou outro


Aclamai…Aclamai…
Porque é aí que o sorriso, se transforma em lágrimas,
Que liberta do vício da condenação,
Consentido, alimentado ou metamorfoseado
No solo da ignorância ou na douta existência

Colocai em dúvida a vossa Fé.
Testai a vossa emoção e de quem a evoca em nós,
Partilhai mesmo com alguém a normalidade dos sentidos,
Mas perante a natureza das coisas
Convocai a vossa simplicidade
Não a razão dos outros
E vereis que Aclamais por vós.

terça-feira, 16 de março de 2010

ESTRANHAR O SOL


Estranho é sentir-se estranho
Porque
Se estranha o bem que se faz
Alegra pelo mal que se fez
Elogia o querer sem crer
Mente sem saber que ser
Pensa sem acreditar
Prefere esquecer

segunda-feira, 8 de março de 2010

MULHER, ÉS FLOR?...


-Olhe pai…uma flor…
-Sim filho, é primavera…
-E o que é a primavera?
-São dias em que alguns homens choram quando pisam uma flor como esta, meu filho…
-E a flor morre?
-Sim…morre se o homem a pisar com muita força.
-E se for eu a pisar a flor, ela também morre, pai?
-Não filho, porque tu ainda não és um homem.
-Pai…quando for homem, posso experimentar pisar uma flor?…

domingo, 28 de fevereiro de 2010

ELOGIO TOTALITÁRIO


Relendo algo, deparei-me com uma frase que Jean Paul Sartre terá proferido, contextualizando-se assim o seu significado:
«Nunca fomos tão livres como durante a ocupação alemã»

Importou-me a frase na medida do aborrecimento que estava a ser para mim, dar uma aula subordinada ao velho tema da confrontação entre regimes totalitários e regimes democráticos.

Sempre, durante todo o tempo em que tive que focar este tipo de matéria, me debati com a necessidade de aproximação a alguma transcendência, aplicada a mim e aos meus alunos, por considerar que limitar tal tema à exígua análise histórica seria uma grande seca.

Assim, eu que até considerava a Sociologia uma ciência auxiliar da História, vejo-me forçado a ir beber a Max Weber e a R. Boudon o elixir da serenidade, quando deste último leio esta maravilha: «A acção de um indivíduo desenvolve-se sempre no interior de um sistema de constrangimentos, mais ou menos claramente definidos, mais ou menos transparentes, mais ou menos rigorosos».

Era a pedra de sal que me faltava neste cozinhado de Verdade da História, que mesmo impregnado de dissertações sobre o Sujeito que também é Objecto e coisa e tal…carecia todavia ainda de uma maior compreensão acerca da individualidade idiossincrática de cada um de nós, mesmo que confrontados com o excesso de rigor liberal, já para não falar da carência de totalitarismo inibidor da nossa criatividade(ironia).

Sendo assim, e sem que este meu espaço seja destinado a manifestações patológicas, deixo no entanto um recado: Não se desculpem com o que podem ou não vir a ser, mas sim com o que já foram, porque passada a tormenta, eis que adquiristes imensa sabedoria e sobretudo fostes livres na vossa acção. Esperemos que sim….

Falei de política, de educação, de desporto? Claramente que não, nem admito conversas dessas neste espaço. (nova ironia)

sábado, 16 de janeiro de 2010

PROVOCAÇÃO A MARIA


Maria que sofres, porque te dedicas a sofrer quando tens tempo para que isso desperte em ti um sentimento de pertença, porque dizem ser do teu mester sofreres para dares vida e a manteres.
Maria que me tens em ti durante a tua vida quase toda, mas que será toda só se tu quiseres, porque sabes sofrer a parte restante da vida para ti sem te lembrares de mim.
Maria que em silêncio me observas maternalmente sem denunciares o teu instinto por não saberes que o exerces na direcção de quem precisa de ti.
Maria que, és vaidosa, quase insinuadora, ingenuamente provocadora em dias que não geres por serem da divina providência acontecerem como dedicados a demónios que nunca interpretaste.
Maria que me assistes, uns dias moribundo por não te entender, nos dias em que devo ser teu servo no fenómeno da cobrição dos desejos que não sabias existirem nos dias das tuas aparentes decisões.
Maria que decides sem quereres ser decisiva no meu destino, apenas porque instintivamente o és em nome da natureza, da tua vontade e de mais ninguém.
Maria que me atormentas, me fazes sentir vivo, morto até, num turbilhão de práticas mentais que me levam a acusar-te sem saber porquê, só porque és o meu principio e o meu fim consciente, esperado, inútil mas desesperado. Porque sei que sou teu predecessor nos actos da vida, e do pensamento sobre a morte.
Maria,só por tudo isto, torna-me a vida leve, sorri e acaricia-me de quando em vez, porque sempre me senti o teu objecto de culto, quando torneando o teu castelo imaginário me senti um pajem, ou mesmo bobo, nos serões das tuas venturas, em busca da minha felicidade.
Pobre de mim Maria, que só vivo porque tu queres, ou então, fala comigo usando as palavras que nunca ousaste dizer.