domingo, 25 de julho de 2010

BULLING??...


...E quando chegados da escola os rapazes descalçavam as botas cardadas, para no rossio se travarem de energias e chutos na trapeira enquanto ao longe a mãe chamava a criação com o peculiar: 'pita...pita...pita....», com a malga de farelos, urtigas e casca de melancia triturada na mão...
Ultrapassada a hora do banho do pai chegado da oficina, os rapazes ainda ofegantes dirigiam-se para o quintal onde uma bacia de água os refrescava da jogatina,terminada entre bostas de vacas do Jimbrinhas,torinas de raça, vindas do chafariz.
Solene o posicionamento do chefe de família à mesa, e expectantes em silêncio todos os filhos,aguardando a qual deles caberia nessa noite, a sorte de ir beber um garoto «lá acima» ao café, de mão dada com o pai, só até que falasse na televisão o João Villaret...
A mãe aguardava «à fresca»,já recolhido o resto da prole, a chegada dos passeantes vindos da cidade,com sorrisos,roupa da cama a cheirar a lavado,pobres, nobres, orgulhosos da sua resistência em prol da honra de se ser devedor à terra, de tudo o que a terra lhes ía devendo...

domingo, 18 de julho de 2010

TEMOS MESTRES




Um destes dias, dei comigo a dizer que sou por natureza…mas rectifiquei : preferi pensar que me tornei uma pessoa mais ou menos sorumbática, que sorri pouco mas que gosta de o fazer quando encontra razões para isso.
Poderia atribuir as culpas a algum deficit de realização pessoal, ou mesmo sentimental mas não. Sei que ninguém é inteiramente feliz .
Ingiro as vitaminas e proteínas necessárias e nem sequer me queixo de fraqueza nas pernas, o que, se por um lado é vantajoso, por outro seria preocupante relativamente ao meu estado de espírito ambulante.
Eis senão quando, fazendo apelo à minha fragilizada capacidade de análise relativa a alguns comportamentos que preferi denominar : «sociais, políticos, económicos, etc,» (qual Kafka) e porque me estava a sentir mal com algumas coisas que ia ouvindo e vendo por aí, resolvi recorrer a Fernando Pessoa e através do Livro do Desassossego, encontrar algum conforto neste meu incómodo.
Fiquei compensado relativamente àquilo que considerava ser a minha endiabrada deformação psico/formativa, quando às tantas leio que: «Viver é ser outro» ou «sentir hoje o que se sentiu ontem não é sentir…» e que «…isto e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.»
Confesso que se havia algum contencioso entre mim e mim, a coisa ficou parcialmente resolvida, tanto mais que, aceitando eu que o Livro do Desassossego , sendo a obra completa mais incompleta do universo, afirmando a dúvida e a hesitação como dois absurdos pilares-mestres do mundo, só me caberia serenar o espírito e tentar compreender aquilo que eu considerava ser uma enorme confusão, por parte de governantes, religiosos, empresários, trabalhadores, chefes de família, mulheres e homens deste país em particular, excluindo os marginais claro está.
Afinal estamos todos em Portugal, a usufruir da parte minimalista da obra que intencionalmente criamos como absurda, sem consequências de qualquer natureza, para ninguém.
Confesso que ainda não me tinha apercebido de que era possível continuar a viver sendo outro. E felicito-me por me ter apercebido de tal, apesar da inspiração retardada e apoiada em testemunhos pré-vivenciais de alguém que ainda permanece vivo na nossa cultura e nas nossas vidas. Refiro-me a Fernando Pessoa obviamente.
Ele está vivo. Como vivas são as medidas tomadas pelos nossos governantes e aceites pelos nossos governados. Porque é esta a verdadeira natureza humana, que complexifica para preceder à des-complexificação, pensa para des-pensar, age para des-agir, ama para des-amar,e é aí que encontra o Nirvana , enquanto estado de libertação do sofrimento, sofrendo.
Abençoado Pessoa, sem bênção que lhe chegue, por ser infindável a obra, contida num livro completo por in-completar.