quarta-feira, 25 de março de 2009

ACREDITAR







Ela é a cor que neste fervor, suporta ainda a dor

Na bravura da imensa planura, de solidão dura

Mas que enobrece a luta da labuta em si bruta

A favor da cura que não dura e por si depura


Vê-se e lê-se acintosamente e crê-se

Na vinda da lida de quem fará vida

De tormentos, ornamentos e outros lamentos

Por amor, outrora desamor, outrora terror

quinta-feira, 12 de março de 2009

O CIO DAS COISAS


Vivemos num espaço com arvores, a nascente um ribeiro cuja água se transporta sem que as margens a oprimam; a passarada de muitas espécies coabita connosco; a sazonalidade das andorinhas sob os beirais é anunciadora de bonança e nem é preciso cata-vento para se perceber a proveniência dos cheiros dos ares que nos visitam.

Este é um espaço de ervas verdes que insistem em vegetar em cada torrão mais teimoso, quando arroteio a terra barrenta com a minha gafanhota (moto-cultivadora). Elas deixam-se vergar perante o peso do ferro e quase me fazem crer na sua intemporalidade. Como eu sei que apenas nos visitámos, depois das borrascas de uma invernia que alagou e me separou longamente do seu destino.

Recolho a máquina enquanto com um sorriso periférico e contemplativo observo o castanho viçoso e luzidio onde a lâmina cortou, quando sei que contribui para o forte cromatismo que reforça mais ainda o verde e o laranja do sublime fruto da época.

Eu sei que em poucos dias mais, regressarei ao duelo que as minhas ervas aceitarão porque lhes dou tempo, pouco embora, para que em brincadeiras de primavera as formigas, os rouxinóis, as rolas, os melros, quiçá uma tartaruga ou um ouriço, possam em jogos de amor, acasalar, roçando-se nelas, expostas que estarão de novo sobre o castanho da terra com cheiro a cio.

São as escolhas que a natureza impõe.

Como sei que as cobras regressarão da sua hiberne estadia por entre pedras que envolvem o poço rodeado de rosas e precisarão de pasto porque o verão não tarda.

Como lá num canto da quinta onde as toupeiras escolheram o seu abrigo em forma de túnel, junto das figueiras de sombra e de húmus persistente, aparecerão pegadas da Seara que esgravatará socalcos de que duvida no espaço da sua vigilância. Sobreviverão?

Não adormecer sem inspirar um pouco do ar fresco e sedoso de um dia passado entre confianças e desconfianças recíprocas, entre espécies com o mesmo instinto, pensando eu em alguém que se sente omnipresente.

Que previlégio esse o teu ò deus…

quarta-feira, 4 de março de 2009

ALMO-GRAVE


E a alma não era tida quando o coração regurgitava.

A alma adia-se

A arte transforma-a

A arte ocupou o lugar da alma