sexta-feira, 29 de junho de 2007

CRENÇA


Que da modesta fé, nasça o condão de fazer da esperança o eterno retorno das coisas da vida.
Não castigueis senhor quem te quer bem.
Reparai na nossa devoção

quinta-feira, 28 de junho de 2007


E assim algo existe, teima e persiste, reforçando a doce teimosia de ser digno.
Troquem-se as voltas ao cansaço e compreenda-se!...
Bastará o querer…?

ANDA CÁ NERO!!....


O meu incómodo não é a chuva, não é o sol, a noite ou o dia nos seus contornos mais dúbios, nem tão pouco o que dizem do tempo que faz e que pode transtornar a colheita…
A minha leve tristeza é saber que me devo manter digno, apesar da inutilidade das coisas, das regras sociais, e da prática de um pensamento filosófico cada vez mais comum na sua inutilidade…

quarta-feira, 27 de junho de 2007

ENGATE





Almas passadas,
Almas moídas e despedaçadas
Decompostas pela verdade

Das palavras falsas dos sonhos
Tanto para dizer e tão pouco dito

Afinal
Vivi o presente e nada fiz
Ou fiz tanto e nada quis

COMPROMETIMENTO


Alentejo, onde o mundo é igual a todos os mundos, onde as pessoas se vestem ou despem de acordo com a cor da sua alma.
Explicitamos voluntariamente ou mesmo involuntariamente, quase sempre, «paixões românticas na ideia de tê-las», como dizia Pessoa,
Abrandamos o sonho outras vezes…
Mas mesmo quando dele nos recordamos, damos conta da sua inutilidade e da dolorosa fúria estéril de sonhar.
Mas é um sofrimento tão bom…

segunda-feira, 25 de junho de 2007

METAMORFOSES


Que enigma, que surdina, que encanto, na majestade do gesto impróprio...
Escassez de memória?
Essência de vida?
Síntese?

OLHARES TÍMIDOS



Da imensa bravura dos povos, resta o silêncio dos inocentes, que da sua errância fizeram um chamamento.
De olhares difusos a querer enganar a sua direcção, erguem estandartes de lata e fome de barro.
Partilham o saber surdo dos répteis e salvam da mordedura fatal os débeis.
Sobrevivem, vivendo de amor e por amor sem palavras.
Até choram…

quarta-feira, 20 de junho de 2007

EXTENSA HOMENAGEM


O João sentiu que fazia uma cara séria, mas não tinha a percepção do riso amarelo que esboçava ao colocarem-lhe um laço azul ao pescoço.
Estava sério. Era este o seu estado de espírito, nos momentos que antecediam a partida para a escola.
A ida para a escola naquele dia não incluía o bibe, por cima da roupa velha mas lavada de cheiro a sabão, sol e mãos da mãe, que habitualmente vestia. Nem as botas cardadas que eram pesadas, mas necessárias para acompanhar o crescimento.
A ida para a escola naquele dia exigia um esforço, que mobilizava quase toda a família, no investimento feito para a saída do João de casa naquela manhã.
Além do laço azul, que compunha uma camisa branca, vestia uns calções até ao joelho e um casaco à homenzinho..Os sapatos eram pretos e os soquetes que se prolongavam até meio da perna eram brancos como era de moda
A mão e a avó compunham-no, aproximando-se para aconchegar as várias peças de roupa, ou afastando-se para à distância observar o seu arranjo.
-Meu rico menino…coisinha mais linda da sua avó!....Vá! Põe-te lá de pé e vai lá ali ao corredor até à cozinha para a mãe ver como estás bonito…
O João deu uns passos até à cozinha e sentiu a dificuldade em mover os dedos dos pés ou não tivessem os sapatos de sola de couro, permanecido na caixa até àquele dia.
O sorriso alargou-se entre todos, e o João sentiu que se aproximava a hora de se juntar aos outros miúdos do bairro, que com certeza estariam igualmente vestidos a preceito para em conjunto se fazerem à azinhaga que dava acesso à escola.
Tratando-se de uma manhã de verão, embora já abrasadora, escolheriam um percurso sombrio e menos poeirento afim de evitarem o pó. Todavia as sombras eram poucas e o pó muito.
Enquanto foi visível o sorriso e a silhueta da mãe e da avó, entre portas, o João lá acompanhou os amigos e colegas, virando-se para trás, acenando até onde a goma da roupa nova permitia.
Chegaram à escola.
O padre Cristóvão estava atento à chegada dos rapazes e criteriosamente dava indicações para o posicionamento de cada um deles, em espaços que todos conheciam no átrio.
Formaram-se filas de dois, em que os mais baixos assumiam as posições dianteiras.
O João ocupava regularmente a última posição tendo a seu lado o Tobias. Desta vez não seria este o seu companheiro naquele posto, porque só os mais preparados iriam iniciar a caminhada cidade dentro. O Eduardo, seria o seu parceiro de marcha.
A distância até à Escola oficial do Rossio, seria de 3 km e seria lá que estes rapazes iriam realizar o exame final da 4ª classe.
O percurso incluía a passagem pelo centro da cidade, o que levava à paragem dos cidadãos comuns à passagem do grupo ordeiro e perfilado, que silenciosamente se encaminhava para a prestação de provas.
As pessoas paravam e sorriam, deixando visível o seu gesto de agrado e louvor pela postura concentrada dos rapazes da Escola dos Padres.
Eles sabiam que iam ser, ente todas as escolas a prestar aquela prova, os melhores de entre todos os alunos do concelho.
O João, sabia-o. O Eduardo, o Tobias, o Ernesto ou o Joaquim sabiam-no também.
Na mão levavam uma pasta com a caneta de tinta permanente, o esquadro, a régua, o compasso, os lápis nº 1 e nº 2, as borrachas e uma santinha.
Chegados à Escola do Rossio, o Padre Cristóvão, indicava-lhes a posição a ocupar para o desempenho.
A prova começava e todos tinham que responder correctamente a todas as perguntas, por isso estavam ali e por isso tinham merecido a confiança que dignificasse os Salesianos. Por isso o Tobias não tinha sido o parceiro do João naquela caminhada.

O som que indicava o termo da prova fazia-se ouvir e antes disso já todos estavam prontos para entregar a mesma.
Dever cumprido, o regresso era feito ladeando o padre Cristóvão, que em amena cavaqueira, brincava com os seus alunos, quando algum deles lhe suplicava a confirmação da aplicação da virgula antes ou depois de…
A goma da camisa dava lugar ao ar fresco que o João passava a sentir, apesar dos 40 graus à sombra pelas 12,30 horas.
O Padre Cristóvão, sempre coberto pela batina negra, não se queixava do calor e todos o conheciam sempre igual. O rigor era o seu lema.
Em casa aguardavam todos o João para o almoço sem euforias. Até o pai, por quem todos esperavam para se iniciarem as refeições, em dias de perfeita normalidade.
Tudo se passava como se nada se tivesse passado. As mulheres da casa não escondiam um sorriso de alegria visível sobretudo no olhar quando contemplavam o João.
Ninguém estava em condições de admitir que aquele esforço resultasse em vão, por isso mesmo, tudo era uma perfeita normalidade.
O João não fizera mais que a sua obrigação.
A roupa nova voltaria ao guarda fato depois de lavada, os sapatos novos também até que viesse a noite da feira de S. João dias depois.
O João, enquanto a tarde soalheira se combinava com as cigarras, ligava o rádio e ouvia as novelas da Maria Madalena Patacho. Eram histórias de cinco jovens que tinham um cão e que viviam arrojadas aventuras, onde acabava quase sempre tudo bem….
Logo mais iria jogar à bola com os amigos do bairro, a horas em que as vacas do Gimbrinha passassem a caminho do Chafariz das Bravas.
Podia ser que vissem um escaravelho entre as bostas já ressequidas das vacas…

domingo, 17 de junho de 2007

OUTONO AUSENTE


Porque sorris? Pergunto a mim…
Se tens na mão a diferença de ti

Chora a tua ternura
Mesmo a tua vontade
Emoldura a tua candura
Parte!...

quinta-feira, 14 de junho de 2007


Porque se insiste em castigar a cor
E elevar o cromatismo à aproximação?
É tão simples ver a luz...
Sentir assim a acção...

domingo, 10 de junho de 2007

Do Barroco ao Romântico


Para além da imaculada versão, de que as aves de bico são inofensivas, constacta-se todavia que diáriamente defecam,a partir de candeeiros de ferro forjado, por sobre qualquer cabeça que sob eles passe.Sejam elas (cabeças) de doutores ou dos outros...
Haja decoro e em coro, apelemos ao dono dos pombos que lhes meta uma anilha e os envie para o séc. XVII, já que sob os flamejantes candeeiros da nossa cidade mais parece estarmos a viver num período de autêntico terror barroco.

Também pelo Alentejo suão foste…poeta!


E Camões em pressas sempre narrado e dito
Estranho estava saber-se de si neste lamento
Diz-se que navegante poeta e destemido
Que nunca soubera desta chuva e deste vento…
Longe do mar e do homem no barco ido
Cá crua era a vida que pra´lá teve alento
Tanta era a fome de que aqui se fez jura
Tamanha era a coragem, aqui fingida de cura

sexta-feira, 8 de junho de 2007


Mas onde estão os Eborígenes?

Assiste-se hoje a uma espécie de intervenção cívico/social, na nossa cidade dos que não são eborígenes e a quem alguém aqui há uns tempos, chamava de pára-quedistas.
Depois de perceberem a apatia em que a nossa cidade vivia e vive, começaram a aparecer, quer nos jornais, quer nas rádios, tecendo comentários, ousados umas vezes, inteligentes outras e até torpes e despropositados em alguns casos.

Houve como que um reconhecimento, por parte dos forasteiros, de que o rei passeando-se nu pelas arcadas, não acrescentava nada à sua nudez e então, assiste-se a uma espécie de invasão do espaço por reflectir da nossa cidade, das nossas gentes e das nossas apatias, o que até pode ser meritório.

Criou-se assim uma espécie de domínio das opiniões, por parte dos novos inquilinos da nossa cidade, que dando demasiado nas vistas, caíram no risco de nada acrescentarem ao que por cá já se passava.

E assim se vem cumprindo ainda, a ausência de faltar neste terra, «alguém que saiba mandar», como diziam os antigos…

Vieram assim, os intrusos, «azedar» algumas sensibilidades mais conservadoras de eborígenes, que desprovidos de hábitos de coabitação e diálogo, bem como de coragem, educação e civismo, despertaram em si, a besta anónima, que a coberto de suevos preconceitos e ortodoxas retaguardas partidárias, se atiraram de cabeça contra inimigos fantasiosos, armados em cavaleiros de fraca figura.

Assim sendo, agora somos mais ainda… os que falamos por falar, e gostamos sobretudo de nos ouvir…porque as palavras quase sempre estão guardadas para ruminar contra o vizinho, em jeito de grunhidos de má vizinhança.

quarta-feira, 6 de junho de 2007


SOBRE ELA

Ela veio olhou e ficou.
Procurou ataviar o espaço da sua permanência, onde pudesse gerar fantasia e emoção,
colorir o espaço de desânimo, quando o Estio se curva nesta direcção.
Olha-se para ela estranhando-se o formosura que não sustém , por se sentir igual a qualquer, por se envergonhar de estar além…

Sabe-se de si todavia, quando se veste de cio primaveril e clama pelo seu par.
É vê-la sem se ver, no delírio da eterna paixão, criando a ilusão de que o amor é a natureza no seu fascínio do estar ali…

Ela sente-nos e se a tivéssemos, olharíamos como ela…por isso a não temos, porque o nosso jardim é feito de gente, e a gente é apenas o seu reflexo…

domingo, 3 de junho de 2007

QUERER SEM PODER


QUERER SEM PODER

Se mais parede houvesse onde pudesse
ter memória de tempos e d`outros modos
Não sei se de alegria ou de remorso
Porque se é agradecido pelo que acontece

Se assim não fosse no tempo atrás
Em que os anos fossem de ninguém
Talvez não quisesse ser rapaz
Por ausência do «cómado» de alguem

Hoje fico assim bem conformado
E sei bem ter o tino da razão
Pois aqui estou bem «comodado»

Nunca quis honras nem perdão, por mor
Cumpri sempre minha pena e devoção
Acho que por isso se diz ser o amor