sábado, 8 de setembro de 2007

MALTA!..MUDAMOS DE VIDA?


Li algures algo como: «Às vezes, a literatura não muda mesmo as nossas vidas. Não é?».
Continuei a ler e reler aquilo, e a ficar incomodado.
Desprendidamente, depressa me preparei nesta tarde, para me atirar a alguém que estivesse a sacrificar-se daquela maneira, insinuando que a literatura serve para mudar a vida das pessoas, assim….
Ou seja, preparei-me fazendo algum esforço intelectual.
Tal foi a pressão que senti nestes anónimos, (autores do blog onde tudo se passa) e reactivos escrevedores equiparados a pessoas que vivem a escrita de forma especial (cúmplice), que fiquei preocupado.
Direi mesmo que senti que vivem a escrita com saciedade, quiçá por não terem encontrado ainda o espaço da sua individualidade: «Às vezes, a literatura não muda mesmo as nossas vidas. Não é?»
Arre!!...São perguntas que se façam??...

Visto isto, estou assim preparado para dizer que se por um lado me aborrece quem escreve pensando que se pode inibir por fazê-lo, como se se apodera de mim uma espécie de temor pelo facto de sentir que esses temerários escritores têm capacidades que eu não tenho, dificultando-me a sua compreensão. E o que é mais grave é que o dizem duma forma enigmática, quando têm tanto espaço para o fazer de forma directa.
Eu teria dito: Como podem vocês acreditar que poderão algum dia, mesmo axiomaticamente, perceber o que é isto de escrever?
A sério que o faria, se estivesse com preocupações de ordem académica, financeiras, sexuais ou mesmo metafísicas.
Irrita-me muito que as pessoas se distanciem das outras pessoas, utilizando as palavras, salvo quando patologias psíquicas os remetem para o espaço do isolamento depressivo, ou quando alguém lhes diz que a terapia para esses males se encontra na subversão do medo, quando a cura estaria no encontro com o dito.
Claro que assim, a literatura não poderá mudar as nossas vidas.

4 comentários:

utopia-x-7 disse...

Achas bem, não me dares oportunidade para comentar?!
Diz-me, diz-me o que posso acrescentar ao resultado e revelação da tua reflexão?!
Poderia fazer aqui uns trocadilhos. Uns pozinhos de perlimpimpim...Mas não me deixaste espaço!

Um Beijo

Canseiroso disse...

É claro que me sinto lisonjeado com o teu comentário...
O espaço é sempre teu.
Abraço

NinaSimone disse...

Olá,
só para deixar um abraço, e também dizer que não é todos os dias que se contradizem pessoas com humor, e percebe-se que elas entendem.
Outro sorriso então.

Vanessa

E. Raposo disse...

Canseiroso
a utopia-x-7 reclama por um lugar, espaço de emissão de explicações.

Eu cá fiquei-me pela dita cuja da frase "Às vezes, a literatura não muda mesmo as nossas vidas. Não é?".
Pensei, reflecti e finalmente permiti-me:
A literatura não tem por sentido primeiro mudar a vida de ninguém. O primeiro objectivo de quem escreve é escrever mesmo, acto puro e simples de colocar em palavras escritas o que lhes vai no pensamento. Simples.
Agora apetece-me escrever... e lá está... registo sob a forma de código, num suporte qualquer o tal apetite, "escrevinhando" algumas palavras.

Voltando à dita cuja da frase. Aquilo fica um pouco difícil de apreender.
Começa com um «Às vezes[...]», se é às vezes é porque na grande maioria das vezes, afinal, ela (a literatura) sempre provoca algo. Depois vem "[...] Não é?", parece-me ser muita dúvida para quem pretendia emitir uma opinião sobre "a tal" da literatura e o que é capaz de mudar.
Agora estou com graves dificuldades de apreender tal afirmação/interrogação, e como tal eliminarei tal leitura.