terça-feira, 31 de maio de 2011

A RENDIÇÃO...


Nesse desarranjo Senhor, de vestes tímidas de encharcar em nudez, olhamos-te na procura de ideais ou quimeras que sustentem a nossa/tua vontade.

Criaste-nos assim à tua imagem e por isso te tentamos seguir literalmente, mas apenas te conseguimos ocasionalmente, por a tanto nos teres ensinado e talvez por isso em sinal de compaixão, te redimes? Prostrado apesar de altivo e escangalhado na cruz, como rei que nu se expõe à saciedade como tal, calas-te e deixas que apregoemos a vida como se ela nos pertencesse? Mas ela não nos pertence e tu sabes bem disso, melhor que ninguém…

Não ouves o clamor dos incautos?

Não segues os ais dos pais, dos filhos e dos que não são pais nem filhos e mesmo de espíritos que podendo ser santos como tu, como outros homens têm sido, te esperam venerar por obras que cubram de vestes brancas, símbolo da pureza, a dignidade humana?

Acaso te rendes como aqui és, à impiedade dos sofistas a que chamarei políticos, que te despem impiedosamente, despindo-nos a todos nós, subvertendo a capacidade de em ti acreditarmos?

Acaso remetes a nossa existência para as futuras calendas, em que os idos dias de cada mês se transformem e narrem o restolho humano, cujos cadáveres subjazem como símbolos ou troféus daqueles que te amedrontam assim e submetem, e que a nós nem falar???...

Homem, Senhor, ou mesmo «é pá!...» vê lá onde é que nos meteste e interfere educadamente junto do Pai, como é de tradição fazer, se é que ela ( a tradição) ainda se adequa e deixa-te de merdas, porque isto está a ficar sem condições para que a fé tenha lugar na vida dos homens, conscientes de que só através dela (da fé) poderemos continuar a ser o teu rebanho.

E despacha-te porque as eleições são já a 5 de Junho do corrente…

Obrigado pelo sinal

2 comentários:

Anfitrite disse...

Eu que não sou filha de ninguém, nasci de livre e espontânea vontade, acho que gostaria de dizer como o Manuel António Pina: "O mundo só se vê bem de pernas para o ar". E, como ele, gostava muito do Menino Jesus, quando era pequenina, e ía apanhar musgo par fazer o presépio. Mas com o pai dele não me entendo e acho que pode utilizar a linguagem que quiser, porque o pai dele não nos vai dar ouvidos, nem respostas. Elas têm de estar dentro de si, basta olhar à sua volta.

Canseiroso disse...

«deus me livre» de procurar respostas seja para aquilo que for...
Pretendo apenas com este desabafo, num esforço meramente intelectual, denunciar a ausência de poder no sítio em que vivemos.
Digamos que é uma perspectiva existencial do mundo em que acho que vivemos, obviamente com os políticos como protagonistas deste espetáculo dantesco em que somos todos figurantes.
Quanto ao menino jesus...eu era mais pelo pai natal.