terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MARGARIDA

Um espaço nasceu na minha terra de nome INTENSIDEZ.

Espaço conquistado e valorizado pela intervenção do jovem casal e de todos os que por lá têm passado.

Passei por lá a semana passada, 6 meses após a sua abertura oficial.

Tratou-se de partilhar a apresentação do livro de poemas da Margarida Morgado, de nome Água Pródiga.

O espaço é excelente, a Margarida não se faz velha e nem sabe que estou a dizer isto. Ela estranhou a homenagem ou lá o que fosse que estivesse a acontecer e disse coisas que alguns entenderam, como coisas que ela não teria entendido.

Aconteceria poesia e a Margarida preparara-se para isso com um whisky, alheia aos 77 anos. Um orador adiantara-se entretanto, a atenuar (estupidamente) as 77 primaveras da autora, referindo cigarros que ambos teriam já fumado. Era um jovem como a maioria dos presentes e precipitou a nostalgia que a Margarida acabaria por agarrar, ficando a poesia ferida.

Foram ainda brilhantes algumas abordagens à Água Pródiga, por quem lera e estudara a poesia da autora.

Cinco senhoras quarentonas, recentemente licenciadas, cedo se posicionaram em mesas perto da Margarida, diante de um bule de chá, como que anunciando que, o facto de serem simultaneamente recem-divorciadas, não seria razão para se meterem nos copos diante da autora que as surpreende com o Cutty Sark, 8 anos. Tarde demais…

Eram brancos os bules e o ar das senhoras sério e circunspecto, iniciando o circulo que as mesas começariam a formar em jeito oval com a Margarida a um dos topos por imposição, sabe-se lá de quem…

Mas havia muita gente gira.

Depois aconteceu Margarida Morgado:


"dentro de mim há um sem palavra
impossível de nomear
nele desaguam os rios sem leito
onde bebem bichos errantes
pássaros perdidos do bando
na hora de emigrar"



Margarida Morgado, Água Pródiga, 2007 (Associ’ Arte, Évora)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

SERÁ MESMO ASSIM?



Quando se chega a um patamar de subdesenvolvimento das ideias, como aquele a que se chegou na nossa democracia, deve-se questionar o papel da oposição, ou seja, daqueles que não estão no poder.

Estes, deviam estar atentos a todo o tipo de tropelias que vão ocorrendo no palco liberal dos nossos costumes.

Mas no fundo no fundo, a que espectáculo assistimos?

A oposição, independentemente da sua postura ideológica, constitui um nicho muito variado de tendências, e inclui os partidos que não estão no poder que subvertem quase sempre a verdade política; a comunicação social que anda a soldo de interesses particulares; intelectuais em nome individual frustrados porque ninguém os ouve; intelectuais que se acoplam a uma qualquer nomenclatura fazendo-se ouvir em nome da dita; o papel dúbio da igreja em matéria social, que, ora evoca a doutrina social, ora revela o seu lado mais inquisitorial; finalmente o povo que vota.

Nesta mescla de famintos não existe uma cultura de civismo, que favoreça a nossa democracia.

E então é ver os governantes na sua prática de promoção pessoal mandando às urtigas os interesses dessa civilidade, negando a planificação neste país e acrescentando o preconceito político/partidário e a incompetência, em marcha para o abismo perante a passividade de todos nós.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

CONFLITO LATENTE


…Palavras não eram ditas, quando uma intervenção de hoje, de um senhor que tem responsabilidades das tais, institucionais, nos vem com a seguinte proposta:

…«O sindicato através da plataforma, decidiu propor aos professores uma greve para o dia 19 de Janeiro, a que se seguirá no dia 20 uma greve dos professores que vão avaliar outros professores…»

Toda a gente sabe que um professor que se negue a avaliar outro professor será saneado do ensino, por decreto promulgado.

Toda a gente sabe que há professores avaliadores que até nem estão, na totalidade, de acordo com o processo de avaliação proposto pelo Ministério.

Toda a gente sabe que não tendo aceite a sua nomeação como professor titular e como tal professor avaliador, o respectivo professor perderia benefícios que lhe foram concedidos pelo tempo de serviço e desempenho ao longo da carreira.

O Sindicato propõe assim que estes professores façam greve, negando-se a avaliar colegas (estes sim maioritariamente instrumentalizados e que não aceitam ser avaliados)

Qual é a intenção?

Pode-se ser professor, pode não se ser professor, podem ser justos os fundamentos das greves ou não.

O que não é justo, o que não é normal, sem que estejam em risco as próprias instituições, sejam elas sindicais ou não, é que um sindicato proponha claramente a abertura de um conflito entre professores avaliadores e professores que vão ser avaliados.

Poderá ser justo que se analisem os fundamentos das razões que levaram professores a serem considerados avaliadores e outros não.

Poderá estar descaracterizada essa avaliação por razões estruturais, mas o que não parece honesto e é claramente mal intencionado, é remeter para os professores, um conflito criado pelos sindicatos a soldo de interesses partidários, a quem interessa que a conflitualidade institucional se processe de forma a destruir a estrutura política decorrente de um processo democrático.

Mais grave ainda, é esta plataforma sindical, de forma descarada, atirar professores contra professores, retirando-se de um conflito por si próprio alimentado.

A central sindical que toma uma iniciativa destas, está a transformar os professores em objecto de uma conjuntura de conflitualidade politico/institucional de progressiva inutilidade intelectual na nossa sociedade.

Se os colegas não perceberem isto, está o caldo entornado, pelos reflexos que esta proposta terá no seio da classe docente, das suas famílias, dos alunos, da família dos alunos e da sociedade em geral.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

É KAFKIANO...


Prefiro dizer que se trata da história de Gregor Samsa, personagem da Metamorfose de Franz Kafka.

Não vou dizer nada que o autor desta belíssima obra não tenha dito. Vou recordar-me da manhã em que acordei pensando ser Gregor.

Tinha-me deitado na noite anterior com a sensação de que a semana não me estava a correr nada bem. Era quarta-feira e já lá iam 3 dias de agitação crescente, no entanto foi naquela quinta-feira que me senti transformado. Questionei-me sobre as causas, tal como Gregor dissera: «O que me aconteceu?»

Não vou plagiar Kafka, falando da mudança do meu corpo, até porque nada disso aconteceu Recordo-me apenas do personagem Gregor e do tormento que não deve ter sido ver-se com numerosas patas escorregadias e peçonhentas, tentado esgueirar-se no espaço exíguo do seu quarto, de modo a não preocupar a sua família.

Tomei uma decisão:

Furtivamente, quase instintivamente, desloquei-me até ao computador.

Dias antes tivera publicado um texto estranho como foram estranhas as reacções ao mesmo. Estava encontrado o desassossego de um comediante de ideias, que era eu. Todavia, sem registo de patente e como tal insolvente em matéria fiscal e moral, dedicara-me a escrever por diversão e retorno da racionalidade instituída, fazendo apelo a uma certa irracionalidade. Eis o resultado. Via-me com numerosas pernas tal como Gregor, viscoso e nojento por ter tentado partilhar ideias com o mundo da racionalidade fria e furtiva.

Por isso me desloquei vagarosamente até ao computador e apaguei apressadamente tudo o que eu e outros teriam escrito sobre as minhas pernas raquíticas e nauseabundas.

O dia iria correr melhor assim. Limpando vestígios de sonhos e fantasias. De ironias de comediante . De escritor frustrado e indigente, carente de comunicação e patente.

O público é muito exigente. As minhas desculpas à administração do Blogger. Prometo ser mais diligente, e criteriosamente selectivo em relação ao público.

domingo, 4 de janeiro de 2009

DE TANTO ESQUECIMENTO, O FADO...


Vozes roucas e cansadas

Evocam amores desabridos

Com olhar distinto e indefinido

Através da alma

Através da vida

Temas nostálgicos e frios

De sonhos e fantasia

De esquecimentos e de saudade

De esperanças sem retorno

De consolo e sofrimento

De sons tristes que são de fado