quarta-feira, 7 de novembro de 2007

É DIFÍCIL SER POETA


E o escritor acordou a meio de uma noite.
De início debateu-se com o mistério da insónia.
Depois tentou brincar com ela e interrogou-se se poderia continuar a ser escritor, desaproveitando as condições de silêncio e meditação que a noite poderia proporcionar-lhe e que ele não aproveitava por não se sentir detentor de todas as faculdades, perante o atroz silêncio.
O seu corpo manteve-se amovível ao primeiro reconhecimento de inércia do espírito debaixo dos cobertores e nem sequer se atrevia a ajeitar o lençol, que por alguma razão se desenquadrara do conjunto da roupa que o cobria.
Consegue agora distinguir os cantos do quarto envoltos em penumbra que já considera poética e resolveu colocar-se de costas, corpo esticado, observando o tecto e os contrastes de luz quase pérola, tentando ouvir o silêncio.
Poderia levantar-se agora. Ir até ao escritório e escrever algo de absolutamente estranho ou mesmo encantador ou romântico. A escolha seria de certo difícil.

Um comentário:

utopia-x-7 disse...

Citando o nosso Fernando Pessoa:
"O poeta nasce e o escritor faz-se".
Ora assim sendo, o poeta não tem outro remédio senão cumprir-se.
É incontornável! Ele estará, desde o seu nascimento, refém da poesia. Mesmo que não escreva um único verso.
Ainda que não conheça o alfabeto. Mas cumprir-se-á, como poeta, em todos os aspectos da sua vida.
E, sim, creio que É DIFÍCIL SER POETA.
Um grande beijo para ti