quinta-feira, 30 de outubro de 2008

É TÃO SIMPLES, PÁ....


Pior do que a crença que se insinua, é não ter crença nenhuma

É mitigar com palavras construídas, o desarranjo de almas sofridas

Castigar com intenções desabridas, orações sem deuses e coloridas

Ficar a lamentar o profano, quando se sente que o desejo é insano


…como se a alma que sente e faz, não fosse vida, instinto e paz…

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

EXCELSO FRUTO


Linda a mulher,

na incerteza da sua beleza

Envolta em mantos

de diáfana claridade

Um dia transforma-se,

dá à luz o desejo dos dias

de intensa claridade.

Sendo eterna na inocência,

acredita na candura

dos seus gestos,

Vai tocando as vidas

que medita, na dor,

na ternura e na desdita

Porque é forte

Abençoada

Bendita

sábado, 18 de outubro de 2008

UM JORNAL À SOMBRA


O jornal da minha terra é uma delícia.
O jornal da minha terra é um jornal esforçado e persiste nesse esforço, sobretudo quando não tem notícias que mereçam relevo.
Assino-o há muitos anos, porque existe também em mim aquele conformismo típico das pessoas que se adornam de simpatia pelas coisas da terra, mesmo que sintam necessidade de comentar com algum desamor, a inoperância das coisas e a ausência de ideias.
A minha terra tem 50 000 habitantes, poucos como se vê, sobretudo para uma cidade conotada com a universalidade da cultura, mas onde o espírito gregário tem muito que se diga…. Propõe-se na minha terra, inconscientemente até, a normalidade dos comportamentos sem que tão pouco se descortine, alguma intenção menos ética ou mais moral.
O jornal da minha terra existe com esse fim também. Existe e subsiste, procurando com a ternura que o caracteriza, a substância, que consiste numa aparente resistência a todas as tendências que muito deliciosamente, se insinuem
A substância do jornal da minha terra, evidencia-se na folha da necrologia, nos anúncios domésticos, no futebol regional, em muita publicidade e num ou noutro destaque
internacional, que pode vir de Moscovo ou do Bangladesh. Todavia, mesmo por cima, ou ao lado, poderá surgir o queixume de um cidadão mais atento, que chama a atenção para as pedras da calçada arrancadas na rua da Misericórdia, ou ao ruído que os jovens universitários eventualmente provoquem depois da meia-noite.
Ali surge por inércia em relação à mudança dos tempos e forte dinâmica quanto à idiossincrasia de um povo que assim o aceita, tudo o que um jornal não deve ser, pelo que representa de inutilidade, num espaço de cultura como é a minha cidade.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ISABELINHA?..NÃO SEI QUEM É...


E o menino sentava-se no poial da esquina, que enviesava as ruas na sua direcção.
Esperava que os outros meninos chegassem junto de si, antes que passasse a Isabelinha da trança, vinda de uma dessas ruas.
O menino caprichava sempre que saía da escola, de modo a ser o primeiro a ocupar o lugar dos seus sonhos, pois sabia que a menina passava a caminho da última compra da tarde. Seria um ramo de salsa ou mesmo de hortelã do lugar de hortaliças, ou mesmo meia garrafa de azeite da mercearia do Sr. Cesário.
O menino acreditava que o poial que estrategicamente se posicionava na esquina das ruas que a Isabelinha percorreria, o ilibariam de qualquer intenção que não fosse esperar pelos amigos de brincadeira daqueles fins de tarde de início de verão. E era sempre de soslaio que olhava à sua esquerda e à sua direita, num olhar rápido e quase sempre acompanhado de um coçar de orelhas. Fazia-o sentado, porque afinal seria sentado que se deveria esperar por alguém, mesmo que dos outros meninos se tratasse.
E ali se interrogava algumas vezes sobre o esquisito que seria, alguém observá-lo naqueles gestos estranhos, tanto mais que a menina, sendo loira e bonitinha, na sua candura , era o enlevo de toda a vizinhança. Que diriam se soubessem que gostava muito da Isabelinha?
Era um alívio quando os amigos chegavam, pulando quase sempre atrás da bola que os antecedia, ate àquele lugar de encontros e de eternos desencontros. Puxavam por si e arrastavam-no para o rossio, mais parecendo cúmplices da Isabelinha e de si próprio, tal a ironia das coisas pensadas e nunca ditas.
Entre pontapés na bola e muito entusiasmo entre balizas, o menino, deitava um olhar distante, e agora directo para o espaço vazio, por onde iria passar a menina da trança. Sorria por dentro e interpretava o seu segredo, que achava doloroso de reter, mas fascinante de viver, por si e por mais ninguém, pois só ele sabia porque se sentava naquelas tardes de Maio, no poial da esquina das ruas da Isabelinha.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

À BOLINA


Estava uma tarde para poemar
Sentir as coisas no ar
Deixar de ser ao acaso,
Existir por não se saber
Ser mesmo, algo para amar,
E querer adormecer, por querer,
Assim como, ao som do mar

E pelas ondas do mar que é meu,
Navego à bolina nas emoções
Por sonhos de sons que oiço,
Que acredito serem de um deus
Que tece preces ao vento, no breu,
Que me empurra e me trespassa
Fazendo-me infinitamente seu


Neste torpe acordar, assim,
Entre o norte e sul me debato,
A bolina sem leme me tragou,
Sou um homem afinal, de papel,
Tu continuas no limbo de jasmim
Onde naveguei em mim, e afinal,
Afinal existo, afinal sou assim

domingo, 5 de outubro de 2008

O PROGRESSO

Reservo este espaço a quem o queira utilizar.
Se ninguém conseguir escrever nada nele, é porque algo de estranho se passa com as novas tecnologias.