sexta-feira, 4 de abril de 2008

UNICIDADE OU UNIDADE


A minha cidade está a engalanar-se.

Parece-se com aqueles domingos de futebol em que o Lusitano jogava na primeira divisão.

Está cheia de gente gira e colorida. Vem gente de fora. Procura fixar-se cá e já descobriu os lugares de discussão das coisas da cidade e neles participa, engalanando-a melhor ainda.

Lembro-me nos meus 4 ou 5 anos, em que os domingos em que o Sporting ou o Benfica ou mesmo o Belenenses, vinham jogar a Évora com o Lusitano, as gentes ficavam diferentes.

As mulheres pegavam nos filhos pequenos e dirigiam-se para a mata do Jardim e daí, sobre a muralha, assistiam à passagem dos homens, que entre as 14:00h e as 15:00h, se dirigiam em grupos ao campo de futebol, que ficava na estrada das Alcáçovas.

O Jogo decorria e ouvia-se de quando em quando, um grande alvoroço, que sobrava no redor do campo de futebol, que fazia palpitar os corações, não importando tão pouco de quem tinha sido o golo.

Também hoje, se faz alvoroço e se agigantam gargantas em defesa, inocentemente como no tempo do Eusébio e do Matateu, do que se considera ser uma grande festa.

Procura-se algum protagonismo, mas sobretudo um grande entusiasmo por se viver em liberdade, numa terra que foi sempre humilde e ingénua nas suas manifestações.

Não importava quem ganhasse. O importante era saber-se que gente de fora vinha à nossa cidade. Que aqui procuravam comer o borrego e que traziam sorrisos, muitos sorrisos.

Nesses sorrisos todos tínhamos partilha, porque o retribuíamos sem saber porquê e ficávamos a pensar:

Como seria a vida em Lisboa…O perigo que representava passar o rio Tejo sobre a ponte de Vila Franca de Xira… Como estaria a tal tia rica que morava para os lados da Praça do Chile…

Agora não. Parece que está tudo aqui.

Tantas bandeiras verdes , ou azuis ou encarnadas…

Como se empolgava o Vital na baliza, ou o Mitó na defesa ou mesmo o Zé Pedro no ataque…

Mas sabíamos que estes eram afinal gente da terra. Pobres como nós. Seria um proeza ganhar a qualquer daquelas equipas.

E quantas vezes empatámos, estando tão perto da vitória…

Hoje empolga-se esta cultura.

As gentes que são da terra, procuram unir-se às gentes de fora.

Está difícil a unidade que muitos confundem com unicidade. E o povo desconfia.

Mas nota-se o esforço da cidade em querer engalanar-se.

Que vença a unidade, mesmo que empatemos.


4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela frescura e autenticidade alentejana das intervenções neste blogue.
Sabe bem ver cultivar a preservação e divulgação da cultura (passe o pleonasmo) local.
Se não fosse o que sou, gostaria de ser alentejano.

Anônimo disse...

magnífico.

cabeça disse...

É neste terreno onde tu jogas o teu melhor. Que tinhas um toque neo-realista, é sabido, mas o surrealista <--[if!,etc.etc. >??!!, é SUBLIME. Abraço.

Canseiroso disse...

A parte surrealista a que te referes foi-me introduzida de forma estranha.
Nem me vou dar ao trabalho do retirar.
Dá um ar internacional à coisa. :)
Abraços