domingo, 6 de fevereiro de 2011

SEM PALAVRAS


Nem sequer é pela vitamina D que me exponho ao sol nos primeiros dias deste meio inverno.
É apenas porque tenho umas amigas, que, mal saio de casa se me insinuam coloridas e sedentas de mimos, como adivinhando o meu lado vespertino, que é melancólico e ao mesmo tempo empreendedor.
É a hora de todas as decisões: Ao fim de semana, depois de almoço, ou contemplo a natureza ou me integro nela e hoje resolvi antecipar uma jornada que tinha planeada para amanhã e resolvo iniciá-la já hoje.
Pequenas liberdades, que me dou ao luxo de exercer, só para estar com elas, tocar-lhes, ouvi-las nos seus queixumes, que não são falsos, pelo que percebo de resistência aos rigores da minha ausência, quando me sacodem à mínima distracção.
Uma delas, que deixa clara a sua intenção de parir figos mel, lá para Agosto, começa por me dar uma chicotada nas costas com uma das suas hastes que eu pensava ter transposto. São perigosas no verão, dizem, pelo fresco que emanam da abrigada das suas largas e suculentas folhas. Sorrio-lhe e prometo-lhe um desbaste fora de época, como é típico de árvores selvagens aceitar.
Caminho da direcção das laranjeiras, que por entre a ramagem deixam que o sol me encandeie, e aí reconheço um sorriso, que desde a última rega à caldeira me era devido. Algumas laranjas no chão culpam-me de carícias perdidas no tempo e de imediato as recolho aproveitando-as para o sumo da manhã, que elas anunciarão pujantes. embora carregadas de moira geada.
Cedros , pinheiros e eucalipto em terrenos baldios sobrevivem e perfumam arrogantes e altaneiros, na margem do ribeiro de som cristalino, mas nem esses pela persistência da sua ramagem, deixam de avisar sobre as daninhas que ameaçam o seu solo, que preferem castanho e árido por tanta sombra.-Cá virei , digo-lhes, pensando no artefacto mecânico que será meu cúmplice no adorno do seu espaço, por, por elas, ser protegido do fenómeno fotossintético.
A poda das cepas já lá vai, e os primeiros grelos de verdura anunciam que foram agradecidos pelo corte temporão que ainda em Dezembro fiz nos caules ainda tenros. Pedem-me os pequenos troncos rasteiros, que elimine a grama para melhor aproveitamento da terra.Assim farei sem recorrer a químicas e sei que elas agradecem com a uva dona Maria de um lado e a piriquita de outro, como agradeceriam a ausência de micções territoriais do Suão, e do Mouro, cães exibicionistas, ou não fosse a Seara, cadela que da Serra da Estrela veio impor a regra do charme e da teimosia para terras do Alentejo.
A horta, sustenta-se de vedação a precisar de reforço e carece de adubo ou esterco que animal produzisse, se o houvesse. Não sendo essa a vocação da quinta, o adubo em que o azoto e outros ingredientes proliferam, fará a cobertura da terra, passada depois com a fresa longitudinalmente e depois ao contrário, como é de bom saber empírico praticado,resultando.
O sol esconde-se já para lá da Sé.Esta, maior que o único eucalipto da Austrália, de sabor a limão, que por cá dá as boas vindas a quem entra.
A cidade a 2 km, adormece, enquanto o cheiro da sedução das minhas amigas embriaga . Logo mais, a neblina será a recompensa da natureza, pela vida mantida em cumplicidade com o sol, e logo mais com a lua que visitará vigilante umas vezes e provocadora outras, o espaço de tanta vida por nascer.