"Uma
manhã, ao despertar de
sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num
gigantesco insecto"
Recordo esta
obra (A Metamorfose de Franz Kafka-1912) como o paradigma da sociedade portuguesa
actual. Pelo que contém de sonho, de realidade e de julgamento desses sonhos a
favor duma realidade absurda,ou mesmo ingénua.
Um homem português na esperança sombria, de que no dia seguinte acorde
homem ainda e que se resigna, quando acordado, ao facto de afinal ter acordado
um insecto.
Que cara a aventura de existir, que lucrativa a esperança de apenas viver,
submetido ao império dos sentidos que a paternidade impõe.
Que disponibilidade para aceitar a inevitabilidade da mudança em si, para
proveito da venturosa vida dos outros.
Que mistério do sofrimento doce, por pouco esforçado, espontâneo e afinal
autoritário em si.
Que sublime submissão ao pai que o gerou, como filho da putativa discussão
nas assembleias dos bons homens, que se dizem.
Que putativa vida que os pariu, aos homens que pronunciam o nome das
coisas, como outros homens e agora também mulheres, querem que elas se chamem…
…As tais palavras proferidas no momento que antecede a metamorfose